RELÓGIO QUE PREVÊ O FIM DO MUNDO É ADIANTADO
RELÓGIO QUE PREVÊ O FIM DO MUNDO É ADIANTADO
Ana Carolina Leonardi - Superinteressante -
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Estamos a 2 minutos e meio do Apocalipse. É o que estima o
comitê do Boletim de Cientistas Atômicos, responsável por ajustar,
anualmente, o Relógio do Juízo Final. Mas atenção: estes 2 minutos e
meio não são literais e sim um símbolo de quão próximos estamos de uma
catástrofe mundial.
O Relógio surgiu há 70 anos, em 1947, criado por cientistas
que participaram do Projeto Manhattam, aquele mesmo, da bomba atômica. Em um
mundo ameaçado por uma guerra nuclear, eles criaram um índice: meia noite
representava o Fim do Mundo, o Conflito Final. Em 1947, estávamos a 7 minutos
da meia noite.
Esse número é atualizado todo ano, de acordo com os
esforços mundiais para tornar o mundo um lugar mais ou menos seguro. Em 1953,
com URSS e EUA testando bombas de hidrogênio por todos os lados, chegamos ao
mais próximo do Fim: 23h58.
De lá para cá, as coisas pareciam melhorar. 1991 foi o ano
mais distante da meia noite, e o Relógio marcou 23h43. Mas, desde 2015, voltou
ao clima da Guerra Fria, marcando 3 minutos para meia noite. Em 2017, o perigo
aumentou: o relógio foi adiantado em 30 segundo. É a primeira vez na história que
ele não é alterado em um minuto completo. A 2 minutos e meio da meia noite,
estamos no momento global mais tenso desde 1953.
Não existe nada de místico neste relógio: o horário que ele
marca é completamente arbitrário. Porém, é decidido por um grupo de mente
geniais – 15 dos membros do comitê venceram o Nobel. O grupo analisa a
conjuntura mundial e decide o quão vulneráveis estamos a uma catástrofe
planetária. Este ano, eles consideraram que o mundo está mais ameaçado que nos
últimos anos – por conta de um combo de inação, desinformação e má gestão.
Ameaça nuclear
Hoje em dia, a análise do Boletim não se limita aos
armamentos nucleares, mas eles seguem sendo uma ameaça importante à segurança
no globo. Em 2017, os cientistas atômicos denunciaram a falta de incentivos à
restrição dessas armas e acusaram os Estados Unidos e a Rússia de estimularem
uma nova corrida armamentista, por seguirem modernizando sem parar os seus
arsenais. A Coreia do Norte também entra como um fator preocupante, tendo
completado seu quinto teste nuclear recentemente.
Aquecimento global
Entre ameaças à sociedade global, as mudanças climáticas
estão no mesmo patamar da Bomba Atômica para os cientistas do Relógio. E eles
são incisivos ao afirmar que as lideranças mundiais não estão fazendo o
suficiente para combatê-lo.

Para além dos riscos presentes, a inteligência artificial e
a “independência” das máquinas foram tidas pelo grupo de cientistas como
potenciais perigos para o futuro da humanidade, caso não haja um esforço
mundial para delimitar o quanto essas tecnologias poderão se desenvolver sem a
interferência humana. O alerta do time se refere especialmente ao lado “moral”
da inteligência artificial, e pede uma reflexão profunda sobre a permissão de
dar às máquinas autoridade sobre a vida humana.
Desinformação
Na mesma linha da Universidade de Oxford, que escolheu
“pós-verdade” como palavra do ano em 2016, o Comitê do Relógio colocou a
desinformação e a repercussão de notícias falsas como potencializadoras de
desastres em grande escala. O exemplo citado é revelador: no ano passado, uma
notícia falsa atribuiu a um ministro israelense uma ameaça ao Paquistão. O
ministro paquistanês acreditou – e lembrou o mundo de que eles também têm armas
nucleares. Para deixar clara a tensão de um mundo de pós-verdades, vale
acrescentar que a resposta inflamatória do Paquistão não foi feita em
pronunciamento oficial, e sim pelo Twitter. E, falando nisso…

Donald Trump
O Boletim dos Cientistas Atômicos não é nada discreto ao
declarar que a eleição de Donald Trump tornou o mundo um lugar menos seguro.
Trump é ligado a todos os problemas citados anteriormente – sua negação pública
do aquecimento global é descrita como um enorme empecilho na luta contra a
mudança climática. Suas declarações impulsivas sobre armamentos nucleares, seja
ameaçando outros países, seja declarando a necessidade de aumentar o arsenal
americano, tornam ainda mais urgente a necessidade de limitar o uso desse tipo
de poderio militar. E, por fim, sua política feita via Twitter e apoio à
rumores é exemplo claro da Era da Pós-Verdade.
O Comitê fala, com todas as letras, que só mudou o relógio
30 segundos porque Trump acaba de assumir o cargo e ainda não terminou de
anunciar sua equipe. O que fica implícito é que eles acham que podemos estar
ainda mais perto da meia noite do que o próprio Relógio do Juízo Final já
mostra.
Revolução?
O tom de urgência do Anúncio do Relógio de 2017 é
proposital: a ideia é chamar lideranças mundiais e cidadãos à ação imediata. O
relatório pede medidas rápidas para a limitação dos arsenais nucleares,
intervenções (pacíficas) contra a Coreia do Norte e ajuda financeira aos países
subdesenvolvidos para a diminuição da emissão de carbono e o investimento em
energia limpa. Exige ainda uma retratação imediata de Donald Trump quanto ao
aquecimento global e a retomada dos esforços americanos quanto ao Acordo de
Paris.
Mas o ritmo inflamatório do texto chega ao ápice no final:
“O relógio está correndo, o perigo global se aproxima. Líderes sábios do poder
público precisam agir já, guiando a humanidade para longe do abismo. Se não
fizerem isso, os cidadãos sábios devem tomar a frente e mostrar o caminho”.
Seria liberdade poética ou o Boletim de Cientistas Atômicos está chamando para
uma revolução anarquista?
Fonte: http://www.msn.com/pt-br/noticias/ciencia-e-tecnologia/rel%C3%B3gio-que-prev%C3%AA-o-fim-do-mundo-acaba-de-ser-adiantado/ar-AAmhyqd?OCID=MI12HT
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