A MISSÃO SOCIAL DA IGREJA
A Igreja
está no mundo e tem responsabilidade social até a volta de Cristo.
INTRODUÇÃO
Em continuidade ao estudo da “Eclesiologia prática”, vamos estudar a
“missão social da Igreja”, ou seja, os deveres e encargos que o Senhor
determinou à Sua Igreja enquanto ela estiver no mundo.
A Igreja, como vimos, é um grupo social, um conjunto de pessoas que está
no meio dos homens nas sociedades e comunidades. As igrejas locais, portanto,
têm, enquanto grupo social, deveres e encargos impostos pelas Escrituras no
relacionamento com os seres humanos, individual e coletivamente.
I – A IGREJA LOCAL É UM GRUPO SOCIAL QUE DEVE ATUAR NA SOCIEDADE
A igreja, na sua dimensão local, é, como visto no início do trimestre,
um grupo social. “… Em Sociologia, um grupo é um sistema de relações sociais,
de interações recorrentes entre pessoas. Também pode ser definido como uma
coleção de várias pessoas que compartilham certas características interaja uns
com os outros, aceitem direitos e obrigações como sócios do grupo e
compartilhem uma identidade comum — para haver um grupo social, é preciso que
os indivíduos se percebam de alguma forma afiliados ao grupo.…”(Wikipedia.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_(Sociologia)
Acesso em 20 dez. 2006).
A igreja local reúne todas as características para ser considerada um
grupo social, ainda que, ultimamente, tenhamos de reconhecer que muitas delas,
máxime nas grandes cidades e metrópoles deste mundo, andam perdendo a sua
identidade comum, cada vez mais se parecendo uma “multidão” do que um
verdadeiro grupo social, assunto, porém, que não é o que deveremos tratar nesta
lição.
- Além de ser um grupo social, a igreja local foi feita por Deus para
ser um grupo social que vive em meio aos demais, que não pode deles se separar,
como, aliás, tivemos ocasião de estudar na lição anterior. Como “astros no meio
de uma geração corrompida e perversa” (Fp 2.15), como “luz do mundo” (Mt.5:14)
e como “sal da terra” (Mt.5:13), a igreja local não pode, mesmo, se apartar do
convívio com os demais homens, tanto que Jesus, mesmo, disse ao Pai que não
pedia que os Seus discípulos fossem tirados do mundo, mas, sim, libertos do mal
(Jo.17:15).
Ora, se a igreja local é um grupo social que deve ser mantido, por
vontade de Cristo, a cabeça da Igreja (Ef.1:22; 5:23), entre os demais homens,
é evidente que deve, enquanto tal, exercer uma “missão social”, ou seja, deve,
enquanto grupo, exercer um papel relevante no relacionamento com as demais
pessoas da sociedade onde se encontra.
Deus não faz coisa alguma sem propósito e, portanto, o fato de a igreja
ser um grupo social e de ter de travar relações com as demais pessoas e os
demais grupos existentes na sociedade não seria uma coincidência, nem tampouco
o resultado de uma vontade ou de uma habilidade desta ou daquela igreja local,
mas uma necessidade imperiosa, um dever que se impõe a todos os que se
constituem em membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27).
Esta dimensão social da igreja tem sido negligenciada ao longo dos
séculos e, com muito maior vigor, a partir da Reforma Protestante, movimento
que, apesar de ter sido o grande responsável pela manutenção e crescimento da
pureza doutrinária, com sua ênfase no caráter individual da salvação e na
justificação pela fé, ao mesmo tempo em que se procurava contrapor aos excessos
advindos do romanismo com relação à prática de boas obras, acabou gerando um
certo menosprezo ao que se convencionou chamar de “ação social da Igreja”, que
é o conjunto de atividades que buscam trazer às pessoas as condições mínimas
para a sua sobrevivência e dignidade na sociedade.
No entanto, quando verificamos que Deus criou o homem como um ser social
(Gn.2:18), bem como que o pecado, embora cometido individualmente, traz severas
conseqüências para a vida em sociedade (Gn.3:16; 6:5,12), a única conclusão que
podemos chegar, à luz das Escrituras, é de que a igreja tem um papel a
desempenhar na sociedade e que, enquanto corpo de Cristo e enquanto grupo
social, não é possível admitir-se uma igreja que seja totalmente ausente da
melhoria das condições de vida em sociedade.
A mensagem do Evangelho é, em si, uma mensagem que leva o homem a ter
esperança não só de uma vida eterna com Deus, já iniciada desde a salvação na
pessoa de Jesus Cristo, mas também de uma vida melhor sobre a face da Terra até
o dia da glorificação. O tema do Evangelho é o “reino de Deus” (Mc.1:15) e este
reino envolve não só a restauração da comunhão entre Deus e o homem, mas também
o estabelecimento de uma comunhão entre os homens, de uma esfera de justiça ,
paz e alegria no Espírito Santo (Jo.15:12; Rm.14:17; I Jo.3:14-19).
Já em Israel, o Senhor já demonstrava a necessidade de se ter uma
efetiva ação social na vida sobre a face da Terra. A lei de Moisés tinha
diversos dispositivos para diminuir a desigualdade social entre os integrantes
da sociedade, bem como para evitar que as camadas mais simples da população
viessem, pela indigência, a sofrer além dos limites suportáveis ou, mesmo, a
morrer de fome, como, por exemplo, nas regras referentes ao ano sabático
(Lv.25:1-7), ao ano do jubileu (Lv.25:8-55), à respiga (Lv.19:10), ao dízimo
(Nm.18:21-32; Dt.14:28,29; 26:12-15), ao salário dos trabalhadores (Lv.19:13) e
ao penhor de bens essenciais à pessoa (Ex.22:26; Dt.24:6).
Em todas estas disposições, Deus mostra, claramente, que, no meio do Seu
povo, deveria haver respeito às pessoas e à sua dignidade, que os homens e
mulheres estavam acima dos direitos e obrigações instituídos, ainda que
legitimamente e de acordo com a lei, de modo que não se toleraria uma
exploração desmedida de um homem em relação a outro, nem se poderia desamparar
e deixar desprotegidos os indivíduos mais vulneráveis, identificados no texto
bíblico como sendo “órfãos” e “viúvas”.
Estas disposições, que nem sempre foram cumpridas pelo povo de Israel
(basta ver, por exemplo, que o cativeiro da Babilônia durou 70 anos
precisamente para que se cumprissem os anos sabáticos ignorados pelos
israelitas durante a sua estada na Terra de Canaã – II Cr.26:21), persistem no
tempo da dispensação da Igreja, vez que não decorrem da dispensação da lei, mas
do próprio caráter divino, visto que Deus não muda e nele não há sombra de
variação (Ml.3:6; Tg.1:17).
A Igreja, o Israel de Deus (Gl.6:16), deve seguir esta mesma linha de
misericórdia e de respeito à dignidade da pessoa humana determinados por Deus
ao Seu povo, visto que é participante da natureza divina, que quer que o homem,
feito à Sua imagem e semelhança, tenha, na vida em sociedade, a dignidade que
lhe é peculiar, que lhe foi dada por ato criativo de Deus.

II – A AÇÃO SOCIAL NO MINISTÉRIO TERRENO DE JESUS
Muitos poderá objetar o que estamos a dizer, afirmando que o fato de a
lei de Moisés ter determinado uma conduta de ação social, de atendimento aos
mais vulneráveis e de proeminência do homem sobre todas as relações sociais, é
apenas uma constatação do que havia no tempo da lei, quando Deus constituiu um
povo étnico, biológico e físico, onde se deveria, mesmo, ter normas relativas
ao convívio social. Sendo, porém, a Igreja um povo espiritual e não sendo o reino
de Deus deste mundo (cfr. Jo 18:36), não haveria qualquer espaço para uma “ação
social” para a Igreja, sendo pois, algo completamente alheio à tarefa da Igreja
o envolvimento com este assunto que seria, quando muito, apenas um desvio
espiritual, em outras palavras, uma “apostasia”.
Não negamos que haja quem pense assim no meio das igrejas locais
evangélicas, pensamento este, aliás, que é explicado historicamente, tendo em
vista a preocupação, principalmente no final do século XIX e início do século
XX, com a infiltração do pensamento materialista e liberal entre muitos
teólogos e pastores, que deram surgimento a um movimento que ficou conhecido
como “evangelismo social” ou “evangelicalismo social”, que, ao mesmo tempo em
que se despertava para a necessidade de uma atuação social da Igreja, também
passava a compartilhar com algumas ideias doutrinárias que acabaram
desacreditando a linha social defendida.
Entretanto, como bem assinala o pastor presbiteriano Rev. Dr. Antônio
José do Nascimento Filho, em seu excelente trabalho O Papel da Ação Social na
Evangelização e Missão na América Latina: uma visão contemporânea (Campinas: LPC Comunicações, 1999. 105p.), este
posicionamento não corresponde à realidade das Escrituras, que, em todo o seu
conjunto, mas também em o Novo Testamento, demonstram claramente que a ação
social é um dever imposto à Igreja, o atual povo de Deus sobre a face da Terra.
Todos dizemos, a começar daqueles que se dizem inimigos da “ação
social”, que Jesus é o cumprimento da lei e dos profetas, e o dizemos não
porque sejamos “iluminados”, mas porque foi precisamente o que disse o Senhor a
respeito (Mt.5:17) e, neste ponto, o Senhor simplesmente exigiu que a justiça
de Seus discípulos, ou seja, da Sua igreja, deveria exceder a dos escribas e
fariseus, sendo esta uma condição “sine qua non” para a entrada no reino dos
céus (Mt.5:20). Só por este motivo, já vemos que o que estava apontado como
figura ou símbolo na lei de Moisés, deveria ser cumprido e efetivado, com muito
maior profundidade, pelos discípulos de Cristo. É, aliás, este o tema do sermão
do monte.
Pois bem, se Jesus é o cumprimento da lei e dos profetas, ao apreciarmos
o Seu ministério terreno, teremos o parâmetro a ser seguido pela Sua Igreja
que, afinal de contas, é o Seu corpo. Se assim é, a questão da “ação social” se
resolve por uma simples questão: Jesus Cristo fez ação social em Seu ministério
terreno?
A resposta é afirmativa. Em todos os instantes que vemos o Senhor Jesus
agindo, vemos que a ação social estava presente, fazia parte do Seu ministério.
Já no limiar do Seu ministério, quando estava sendo tentado pelo diabo, em
resposta ao Tentador, o Senhor citou o livro de Deuteronômio: “nem só de pão
viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus” (Mt.4:4b).
A frase de Cristo é muito utilizada para mostrar a importância e
supremacia da Palavra de Deus, mas contém também um ensino que é, por vezes,
negligenciado. Jesus, com todas as letras, diz que o homem precisa do pão
material, embora sua vida não se reduza a isto. Estava, sim, a passar fome no
deserto, pois havia um propósito divino para tanto (Jesus estava em jejum para
poder enfrentar e vencer o diabo), mas isto não queria dizer que o homem não
precisa de pão material para sobreviver. Muito pelo contrário, nas duas
multiplicações de pães, Jesus mostrou a Sua preocupação com a alimentação da
multidão que O ouvia (Mt 14. 15,16; 15:32). Vemos, pois, que, em Seu
ministério, Jesus sempre demonstrou cuidado para com a satisfação das
necessidades físicas dos que O cercavam.
Em Nazaré, cidade onde foi criado, em Sua pregação na sinagoga, depois
de ter sido tentado pelo diabo, revela este lado “material” de Seu ministério
terreno. Disse que havia sido ungido para evangelizar os pobres, a curar os
quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos e dar vista aos
cegos, a pôr liberdade os oprimidos e anunciar o ano aceitável do Senhor (Lc 4:18,19).
Em todas estas atividades, embora haja um sentido espiritual evidente, não se pode
também descartar o aspecto material.
Jesus, em muitas ocasiões, referiu-Se aos pobres e não só no sentido
espiritual da palavra, ou seja, aqueles que se fazem dependentes de Deus,
carentes de Deus e aceitam a Sua soberania, mas também no sentido material da
expressão, pois, se assim não fosse, como entender que Jesus possuía uma bolsa
para os pobres (Jo 12:6; 13:29), bem como mulheres que contribuíam
financeiramente para este serviço (Lc.8:3)?
- Outra demonstração de que o ministério de Jesus também abrangia a ação
social vemos no próprio comportamento dos discípulos que, nos tempos
apostólicos, sempre cuidaram dos necessitados, particularmente das viúvas, como
nos atestam textos como At 2.45; 6:1; II Co 9; I Tm 5.3-5. Vemos, portanto,
que, se os discípulos assim procediam é porque assim havia sido o procedimento
do seu Mestre e Senhor, a quem imitavam.
O ensino de Jesus a respeito do amor ao próximo, que foi tão bem
ilustrado na parábola do bom samaritano, é mais uma demonstração de que não é
possível um verdadeiro e genuíno cristianismo sem uma “ação social”. Amar o
próximo, como ensina nessa parábola, é superar todas as barreiras culturais e
fazer o bem ao semelhante, de modo desinteressado e incondicional. Aliás, o
apóstolo Pedro, ao sintetizar o ministério de Cristo, disse que Ele andava
“fazendo bem” (At 10.38), a demonstrar, pois, que a “ação social” era um dos
sustentáculos do ministério terreno do Senhor.
III – A AÇÃO SOCIAL E AS DOUTRINAS BÍBLICAS
O já mencionado pastor Antônio José do Nascimento Filho é feliz ao
mostrar que a ação social é uma consequência inevitável e indispensável de
algumas doutrinas bíblicas, o que demonstra a sua necessidade no cotidiano da
Igreja. Para o referido estudioso das Escrituras, a ação social é consequência
das seguintes doutrinas bíblicas:
a) Doutrina de Deus – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra aos
homens que Deus é justo e misericordioso, visto que a “ação social” visa
instituir a justiça e é uma demonstração da misericórdia, atributos divinos por
excelência.
b) Doutrina de Cristo – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra que
Jesus veio para servir e não para ser servido. O Cristo, Servo do Senhor, que
ama e tem compaixão de toda a humanidade é mostrado quando a Igreja pratica
“ação social”.
c) Doutrina do Reino de Deus – Ao efetuar “ação social”, a Igreja, desde
já, adianta o que é o Reino de Deus, torna realidade, ainda que parcial e tênue
o que está a pregar e a esperar com a vitória final sobre o mal e o pecado a
ser realizado pelo seu Rei, o Senhor Jesus.
d) Doutrina do Homem – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra o
devido valor que Deus dá ao homem e a posição singular dada ao homem na ordem
cósmica. A Igreja, ao praticar a “ação social”, realça a dignidade da pessoa
humana.
e) Doutrina da Igreja – Ao efetuar “ação social”, a Igreja mostra ao
mundo que é um povo especial, zeloso de boas obras, a agência do reino de Deus
na Terra. Comprova, com fatos (e contra fatos, não há argumentos), que Jesus
ama e veio salvar a humanidade.
Podemos, ainda, ante a “ação social” da Igreja, vermos características
de outras doutrinas bíblicas, a saber:
f) Doutrina do Espírito Santo – A “ação social” da Igreja mostra,
claramente, que a Igreja tem, dentro de Si, o Espírito Santo, o Consolador,
aquele que vem dar alívio e conforto aos homens.
g) Doutrina da Salvação – A “ação social” da Igreja mostra o que é a
salvação em Cristo Jesus, uma salvação que não se circunscreve a partes do
homem, mas ao homem integral: corpo, alma e espírito.
h) Doutrina do Pecado – A “ação social” da Igreja leva os homens a
perceber a injustiça reinante na sociedade e que isto é resultado do pecado,
efeito nefasto da rebelião do homem contra Deus.
Como se verifica, pois, a “ação social” da Igreja é uma atividade que
muito colabora para não só a evangelização, como também para o próprio
aperfeiçoamento dos santos, pois, com estas “boas obras”, veem claramente que
os homens são levados a glorificar ao nosso Pai que está nos céus.
É importante, neste instante, evidenciar aqui uma distinção que costuma
ser feita entre “serviço social” e “ação social”, distinção esta que, aliás,
consta do material produzido pelo Setor de Educação Cristã da CPAD no apoio aos
mestres nas Lições Bíblicas. Até aqui temos tratado “ação social” num sentido
genérico, tal qual o definimos supra, ou seja, como o conjunto de atividades
que buscam trazer às pessoas as condições mínimas para a sua sobrevivência e
dignidade na sociedade. No entanto, conforme acentuou o material já aludido, há
uma distinção entre “serviço social” e “ação social”. O “serviço social” é
identificado com o conjunto de atividades que têm, por finalidade, a satisfação
imediata de carências surgidas num determinado grupo de pessoas, uma ação de
caráter “curativo”, um remédio para uma necessidade surgida. Já a “ação social”
é identificada como um conjunto de atividades que visa não a satisfação de uma
necessidade, mas a eliminação da causa desta necessidade, que tem em vista a
modificação do quadro existente, a alteração da própria sociedade, tornando-a mais
justa.
III – O AMOR AO PRÓXIMO E O AMOR FRATERNAL COMO CONDIÇÃO PARA A AÇÃO
SOCIAL DA IGREJA
Já dissemos que uma das demonstrações de que a “ação social” da Igreja é
uma necessidade é que é ele a demonstração do próprio “amor ao próximo”, que
Jesus considerou como sendo um dos dois mandamentos a que se resumia a lei e os
profetas (Mt.22:39,40).
Sendo o amor uma característica indispensável para quem diz ser filho de
Deus, é como se fosse o próprio DNA espiritual do cristão sincero e verdadeiro,
devemos observar que este amor não é apenas a essência da comunhão entre Deus e
o homem, o próprio núcleo da vida espiritual, mas é, como afirma Paulo, o
primeiro “gomo” do fruto do Espírito (Gl.5:22), ou seja, necessariamente este
amor tem de se traduzir em atitudes, em ações, tem de se manifestar fora do
indivíduo.
OBS: “… Ao descobrir-se amado por Deus, o homem compreende a própria
dignidade transcendente, aprende a não se contentar de si e a encontrar o
outro, em uma rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Feitos
novos pelo amor de Deus, os homens são capacitados a transformar as regras e a
qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais; são pessoas capazes de
levar a paz onde há conflitos, de construir e cultivar relações fraternas onde
há ódio, de buscar a justiça onde prevalece a exploração do homem pelo homem.
Somente o amor é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres
humanos têm entre si.…” (PONTÍFICIO
CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”. Compêndio da doutrina social da Igreja, n. 4)
Não foi por outra razão que Deus, ao entregar a Moisés a lei,
estabeleceu que o resumo de todos os mandamentos fosse “Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder.” (Dt 6:5).
Só assim poderia haver a guarda de todos os mandamentos e, por conseguinte,
temor a Deus e vida (cfr. Dt 6:1,2), mandamento que foi endossado por Cristo,
quando indagado a respeito do que era mais importante na lei (Mt.22:37).
OBS: É interessante notar que a declaração de Dt.6:5 vem imediatamente
após a declaração de Dt.6:4, conhecida entre os judeus como a “Shemá”, a
profissão de fé israelita. O mestre judeu Baal Hatorim (1270-1350) sugere que
esta profissão de fé significa testemunho e que, cada um dos judeus, quando
recita a “Shemá” (que, no ritual judaico, deve ser pronunciada por todo judeu
pela manhã e pela noite), testemunha a divindade de Deus e aceita o jugo do Seu
reino. Ora, se assim considerarmos, vemos, claramente, que o amor é a
demonstração concreta do testemunho de um servo de Deus.
Assim na lei de Moisés, apesar de todo o seu rigor, está bem especificado
que o fundamento, a essência do relacionamento de Deus com o homem é o amor e
que este amor não se limitava tão somente ao interior do homem que aceita
Cristo, mas que se espraia aos semelhantes, tanto que Jesus fez questão de
complementar a inquirição do doutor da lei com uma afirmação extremamente
relevante: “e o segundo, semelhante a este, é: amarás o próximo como a ti
mesmo.” (Mt.22:39).
Deste modo, vemos que o amor divino, quando passa a existir no ser
humano, o que somente é possível mediante a salvação, gera uma fonte de água
que jorra para a vida eterna (Jo.4:14). Se for fonte de água que jorra, é água
em movimento; se é água em movimento, é água que atinge outros lugares; se é
água que atinge outros lugares, é água que leva a vida eterna até estes outros
lugares. O homem salvo possui amor que se manifesta:
a) em direção a Deus – dimensão vertical
b) em direção aos outros homens – dimensão horizontal
c) em direção a si mesmo – dimensão interior
O apóstolo Paulo, ao escrever para os crentes de Tessalônica, vai
tratar, precisamente, desta “dimensão horizontal”, ou seja, do amor em direção
aos outros homens, do que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, é chamado de
“caridade fraternal”, que, em outras versões, é denominado de “amor fraternal”
e que corresponde à palavra grega “philadelphia”, que é uma palavra composta de
“philia”, o amor amizade de que já tratamos supra e “adelphos”, que significa
“irmão” e que se constitui, precisamente, no fator que leva a Igreja a efetuar
uma “ação social”.
O amor a Deus é pressuposto para que se tenha amor ao próximo. Não é
possível amar o próximo sem que antes se ame a Deus. Daí porque não podermos
confundir o amor ao próximo com o mero exercício de filantropia, com dó ou
qualquer outro sentimento que tenha em vista a ajuda circunstancial a outrem,
como, aliás, defendem aqueles que acham que as boas obras de alguém ocasionam a
este alguém algum progresso espiritual.
Quem ama a Deus, ama o próximo, mas quem não ama a Deus, não ama o
próximo. É mentira a afirmação de alguém que diz que está evoluindo
espiritualmente pelo simples fato de ajudar os necessitados com esmolas ou com
trabalho voluntário. Estas atitudes de benemerência não significam amor ao
próximo, pois o verdadeiro amor ao próximo é decorrência do amor a Deus e,
portanto, é resultado da obediência à Palavra de Deus.

Mas, do mesmo modo que estão errados aqueles que acham que as boas obras
são suficientes para salvação, também estão enganados aqueles que veem numa
vida religiosa devocional a salvação. A Bíblia é claríssima: quem ama a Deus,
ame a seu irmão e que quem aborrece a seu irmão e diz que ama a Deus é
mentiroso e, portanto, alguém que não é filho de Deus, tanto que não morará
eternamente com o Senhor na cidade santa, mas ficará do lado de fora pela sua
mentira (Ap.21:8; 22:5).
- Amar o próximo não é dizer a alguém que o ama, mas um amor que se
mostra por atitudes concretas, por ações efetivas, por obras. Amor ao próximo
não é amor de palavra nem de língua, mas amor por obras e em verdade (I Jo. 3.18).
Amar o próximo é sentir compaixão por ele, ou seja, sentir a sua dor,
como se fosse nossa e, assim, suprir as necessidades imediatas do nosso
semelhante, lembrando que ele é tão imagem e semelhança de Deus quanto nós. O
próximo é qualquer ser humano, como bem nos explicitou Jesus na parábola do bom
samaritano, e este amor supera todo e qualquer preconceito, toda e qualquer
barreira, toda e qualquer tradição.
Amar o próximo não é apenas ajudar alguém do ponto-de-vista material,
mas, sobretudo, levar este alguém a uma vida de comunhão com Deus, a um
equilíbrio em todos os aspectos da sua vida. Medidas emergenciais serão
necessárias, como nos mostra a parábola do bom samaritano, mas é extremamente
necessário que levemos o próximo a entender que deve, sobretudo, amar a Deus,
para que também ame o próximo, como nós o amamos.
O amor ao próximo é determinado pelo Senhor, é Seu mandamento (Jo. 15. 12)
e tem como exemplo o próprio amor que Cristo apresentou a nós, ou seja, o da
completa renúncia para que desfrutássemos da vida eterna. Devemos assim amar os
nossos irmãos: estarmos dispostos, inclusive, a dar nossa vida pelos irmãos,
desde que isto os leve a uma vida de comunhão com Deus.
Jesus nos amou primeiro, fez o que não podíamos fazer, mas nem por isso
fez o que poderíamos e deveríamos fazer. Este é o limite do amor ao próximo:
fazer aquilo que ele não pode fazer, mas ensinar-lhe a fazer o que pode e deve
fazer.
Quando amamos o próximo da forma determinada na Palavra de Deus,
melhoramos sensivelmente o ambiente em que vivemos. O período áureo da história
da humanidade, que será o reino milenial de Cristo, será caracterizado por este
amor, teremos, enfim, a “civilização do amor”, que tanto almejamos e que tão
distante está da nossa realidade atual.
Esta civilização do amor já está delineada nos dez mandamentos dados a
Moisés, onde Deus revela o Seu caráter ao povo que escolhera. Com efeito, ao
observarmos os mandamentos, veremos que quatro deles dizem respeito ao
relacionamento entre Deus e Israel (dimensão vertical: não terás outros deuses
diante de mim, não farás imagem de escultura, não usarás o nome do Senhor em
vão, guardarás o sábado), um é híbrido, pois diz respeito ao relacionamento
entre Deus e Israel e entre os homens entre si (honrar pai e mãe para que o
Senhor prolongue a vida) e cinco são inteiramente voltados para o
relacionamento entre as pessoas (não matarás, não adulterarás, não furtarás,
não dirás falso testemunho contra o teu próximo e não cobiçarás). Aqui, uma vez
mais, vemos que a fonte de um bom relacionamento com o próximo é o bom
relacionamento com Deus, mas também vemos como é extremamente indispensável que
haja atitudes concretas para mostrar este amor ao próximo.
OBS: “… Atribuindo o fundamento destas leis à responsabilidade do homem
diante de Deus, e não tão somente diante da sua consciência, Moisés pôde
assegurar o seu cumprimento total em todas as circunstâncias e em todas as
épocas. A transgressão de um mandamento da Torá não é apenas um crime contra a
consciência ou o Estado, mas também um pecado religioso contra Deus, e se uma
pessoa cumpre realmente os cinco primeiros mandamentos, dificilmente poderá
transgredir os cinco últimos.…” (Meir Matzliah
MELAMED. A Lei de Moisés: Torá, com.Ex.20:1, p.215).
Este amor ao próximo, esta “caridade fraternal” ou “amor fraternal”, era
uma característica dos crentes de Tessalônica, a tal ponto que o apóstolo chega
mesmo a dizer que a respeito dela não precisaria escrever, vez que se tratava
de uma qualidade presente no cotidiano da igreja dos tessalonicenses, como se
lê em I Ts. 4:9.
Já vimos que, sem a presença do amor divino, não é possível falarmos em
amor ao próximo, em uma verdadeira “fraternidade”, esta palavra que, apesar de
estar presente em muitos documentos e eloquentes discursos (a começar do famoso
lema da Revolução Francesa: “liberdade, igualdade e fraternidade”), é uma
prática cada vez mais rara no mundo em que vivemos, precisamente porque este
mundo está imerso no pecado e no mal, o que impede que o amor de Deus possa
dominar os corações e, assim, trazer a verdadeira fraternidade aos homens.
Em Tessalônica, porém, a fraternidade era uma qualidade presente, que
fazia parte do dia-a-dia dos crentes. É importante, desde logo, verificar que,
em termos de amor, pouco importa o que é dito ou ensinado, sendo muito mais
importante o que é feito, o que é praticado. Amor não é matéria que se observe
por teoria, por palavras, mas por atitudes, por gestos concretos (I Jo 3:18).
Fraternidade é, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “laço
de parentesco entre irmãos, irmandade”; “união, afeto de irmão para irmão”; “o
amor ao próximo, fraternização”; “a harmonia e união entre aqueles que vivem em
proximidade ou que lutam pela mesma causa etc.”. Por estas definições do
lexicógrafo (aquele que escreve dicionários), podemos observar o que havia na
igreja em Tessalônica e a respeito do que o apóstolo não precisava mais
escrever.
Em primeiro lugar, fraternidade é o “laço de parentesco entre irmãos,
irmandade”. Este significado primeiro da palavra fraternidade leva-nos não só
ao aspecto biológico, mas também ao prisma espiritual. Como reconhecem os
estudiosos de religião, foram os cristãos os primeiros a afirmar
categoricamente que todos os homens eram irmãos uns dos outros, não só
biologicamente (pois todos tiveram o mesmo pai biológico – At. 17.26), mas por
dever todos se amar uns aos outros. Como diz Rodney Stark, “… o uso do ‘irmãos
em Cristo’, proferido mutuamente por nobres e escravos, homens e mulheres, não
era mera retórica. Desses costumes nasceram a solidariedade e a noção de
assistência social (além de um embrião de democracia popular), que hoje é tão
cara ao mundo civilizado. Foram os cristãos — ainda na condição de proscritos —
os fundadores dos primeiros hospitais e asilos.…” ( Isabela BOSCOV. As faces de Jesus. Veja, ano 35, n. 51, edição 1783,
25.12.2002, p.95).
Verdade é que esta ideia de uma irmandade entre todos os homens já
existia, de certo modo, entre os judeus, o que não é surpreendente, visto que
Deus não muda e Sua revelação a Israel não poderia contradizer a Sua revelação
por meio de Seu Filho. Assim é que, já entre os judeus, vemos a ideia de que
uma das características do homem maligno é, precisamente, a ausência de
espírito fraterno. Caim é o protótipo do homem sem Deus e revela toda a sua
malignidade quando se dirige a Deus e diz: “sou eu, guardador do meu irmão?”
(Gn.4:9 “in fine”). No entanto, cedo esta ideia centrou-se na própria nação
judaica, a ponto de se dizer que “todos em Israel são companheiros”. Nos tempos
de Jesus, mesmo, a inimizade existente entre os judeus e os samaritanos são o
exemplo vivo de como o preceito divino havia se circunscrito apenas aos
nacionais de Israel.
Entretanto, na Igreja, no conjunto das pessoas salvas, todos são
conscientes de que somos irmãos uns dos outros, de que temos uma mesma origem
biológica e que Deus não faz, por isso, acepção de pessoas. É fundamental que
tenhamos esta consciência, pois só deste modo poderemos desenvolver as ações
que nos são exigidas pelas Escrituras Sagradas, como a humildade, o perdão e a
misericórdia. Se reconhecemos que somos irmãos uns dos outros, que ninguém é
melhor do que ninguém, certamente nos conduziremos de forma agradável a Deus
nos nossos relacionamentos.
- Com relação, então, aos outros crentes, que não só são nossos irmãos
biológicos, mas, também, assim como nós, herdeiros de Deus e co-herdeiros de
Cristo (Rm.8:17), então nem se fale. Quando vemos, em cada salvo, um dos
pequeninos do Senhor (Mt.25:40,45), certamente nossas atitudes serão muito
diversas daquelas que são feitas pelos que não conhecem a Deus. A fraternidade
é o laço de parentesco que une irmãos e somente poderemos agir fraternalmente
se tivermos consciência de que cada um dos salvos custou o mesmo preço do
sangue de Cristo e que, portanto, é uma jóia preciosa do tesouro de Deus.
Vivemos dias em que as pessoas se deixam iludir pela posição, pelas
finanças e que, por causa disto, age com discriminação na própria igreja local,
algo que já existia nos tempos apostólicos, como nos dá notícia o apóstolo
Tiago em sua carta (Tg.2:1-13). No entanto, destas coisas Deus não Se agrada e
devemos evitá-las a todo custo e o primeiro ponto para agirmos consoante os
mandamentos divinos é o de nos lembrarmos de que todos somos herdeiros de Deus
e co-herdeiros de Cristo, que somos irmãos.
A igreja de Tessalônica era uma igreja dotada de grande diversidade.
Tinha membros da elite e das classes mais baixas, judeus e gentios, homens e
mulheres, mas isto não os impediu de terem, entre si, a fraternidade, de se
reconhecerem como irmãos, de se tratarem sem discriminação. Que exemplo
maravilhoso para os nossos dias! Muitos procuram justificar as coisas estranhas
que têm ocorrido nas igrejas locais com o “crescimento da obra de Deus”. Com o
crescimento, argumentam estes, é preciso tratar com distinção os segmentos
nobres da sociedade que estão se convertendo e, assim, deixam de lado os
pobres, os “irmãozinhos”, o “povinho”, que até pouco tempo era o que se tinha
como igreja local. No entanto, o exemplo dos crentes de Tessalônica mostra-nos
que as coisas não são como dizem. Aquela igreja tinha pessoas da elite, mas não
havia diferença de tratamento entre eles, pelo contrário, o apóstolo os
elogiava porque tinham “caridade fraternal”.
Mas parentesco também nos fala em mesma herança. Com efeito, a
característica maior dos parentes é terem a mesma origem. Os irmãos não são
idênticos, nem mesmo os gêmeos, como nos dão conta Esaú e Jacó. Entretanto, têm
todos o mesmo patrimônio genético (o mesmo DNA), os mesmos direitos, a mesma
tradição, os mesmos antepassados. Isto nos revela que os crentes, embora não
sejam idênticos, têm uma mesma origem, têm algo que os une, que os mantêm em
unidade. É por isso que não devemos confundir, em termos de igreja,
uniformidade com unidade. A unidade é essencial. Todos os crentes são chamados
para ser um em Cristo, assim como Cristo e o Pai são um (Jo.17:21). Entretanto,
nós somos irmãos uns dos outros, ou seja, temos nossas próprias características,
que nos distinguem uns dos outros (Gn.25:24-28). Por isso, não podemos exigir
que todos sejam iguais a nós, nem que o nosso modo de ser seja imposto aos
demais. A fraternidade reconhece o nosso parentesco e, por isso mesmo, acolhe e
administra as diferenças (Rm.14).
Em segundo lugar, fraternidade é “a união, o afeto de irmão para irmão”.
Não basta sabermos que somos parentes, que temos uma mesma origem biológica e
espiritual, mas é indispensável que tenhamos união, que tenhamos afeto entre
nós. O salmista já dizia que a união é um pressuposto para que o Senhor ordene
a vida e a bênção para sempre no meio do Seu povo (Sl.133).
Os crentes em Tessalônica eram unidos, apesar de todos os fatores
humanos que contribuíam para que isto não se desse. Aqueles crentes tinham
tradições culturais diferentes, viviam em classes sociais diferentes e seu
cotidiano era diferente, já que pertenciam a camadas distintas da sociedade,
mas isto tudo não os impediu de serem unidos, de terem afeto não somente entre
si, mas também em relação aos crentes de toda a Macedônia, como testemunha o
apóstolo Paulo.
Os dias eram de perseguição e, quando há perseguição, tem-no mostrado a
história da igreja, o Senhor faz notório o amor fraternal entre os crentes.
Conta-se que, na Nicarágua, no auge do governo sandinista (o período anterior,
não o atual), diante das restrições que os crentes sofreram para cultuar a
Deus, as denominações daquele país, que, antes da mudança de governo,
envolviam-se em querelas e em atitudes sectárias, acabaram se reunindo em
locais nem sempre de uso permitido pelo governo para juntas cultuarem a Deus,
deixando de lado as “diferenças” antes tão propaladas. Assim, muitas vezes,
Deus age para que deixemos de lado aquilo que tem impedido o crescimento da
“caridade fraternal”.
A fraternidade exige que os irmãos em Cristo se mostrem unidos e
demonstrem afeto uns para com os outros. A fraternidade não é mera retórica,
não são bonitas palavras que se pregam ou se exclamam no sentido de que se deve
ajudar o necessitado, dar emprego ao desempregado, comida ao faminto ou remédio
a quem está doente. É, antes de tudo, arregaçar as mangas e providenciar meios
para que estas necessidades sejam supridas.
Em Tessalônica, principalmente depois que se iniciou a perseguição
promovida pelos judeus e que incitavam as autoridades romanas, não devem ter
sido poucos os problemas vividos pelos crentes. Não só eles, mas também os
crentes das outras cidades macedônias (em especial, Filipos e Beréia) passaram
a ser igualmente perseguidos, mas os crentes de Tessalônica não só se ajudaram
mutuamente como também estenderam a sua mão auxiliadora para as demais cidades
da província, o que foi exaltado pelo apóstolo.
- O que temos feito para ajudar os irmãos de nossa igreja local? Nos
nossos dias, em que as igrejas mais se parecem ajuntamentos, em que diminui a
cada instante a distinção entre a plateia de um evento e a assistência de uma
igreja, será que teríamos, em nossa igreja local, o mesmo elogio que Paulo deu
aos tessalonicenses, apesar de vivermos no Brasil um ambiente de liberdade
religiosa? “… Disse Philip Yancey: ‘ Se nossas igrejas pudessem comunicar graça
num mundo de competição […] elas se tornariam lugares em que as pessoas se
ajuntariam com prazer; não por coerção, mas como nômades do deserto em volta de
um oásis. Entristeço-me ao ver igrejas locais que funcionavam mais como
empresas ou instituições financeiras do que como numa família…” (Agrício do VALE. Será o protestantismo terá futuro? Defesa da fé, ano
10, n.76, p.54).
- A maldade do mundo tem esfriado o relacionamento entre as pessoas. Não
só nas grandes cidades, mas em um número cada vez maior de lugares, as pessoas
têm se isolado umas das outras, não sendo raro o caso de pessoas que vivem há
anos no mesmo local e não conhecem sequer as pessoas que habitam na mesma rua,
na mesma quadra, no mesmo andar. Esta frieza contaminou, também, o ambiente das
igrejas locais e não se sente mais o afeto, a união entre os integrantes de uma
determinada comunidade. O sucesso da chamada “visão celular”, aliás, deve ser
tributado muito a isto, pois as pessoas, sentindo-se solitárias e desamparadas
nas igrejas locais, acolhem com entusiasmo a ideia de ser integrante de um
grupo menor, a “célula”, onde se tem um ambiente propício à afetividade, ao
desenvolvimento da afeição entre os irmãos.
- O ambiente da igreja local não pode ser, em absoluto, despido desta
união, deste afeto de irmão para irmão. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros
de Cristo e, por isso, temos de nos ajudar uns aos outros, de suprir um ao
outro as necessidades, sejam elas espirituais ou materiais. Há muitos que se
encontram solitários e totalmente desamparados nas multidões dos ajuntamentos das
igrejas locais e isto é totalmente contrário ao modelo bíblico de igreja local,
onde “… todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum, e vendiam
suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um havia de
mister e, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em
casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração.” (At.2:44-46).
Lamentavelmente, verificamos que muitas organizações humanas têm
superado em muito o ambiente de afetividade das igrejas locais, alguma até são
conhecidas como “fraternidades”, precisamente porque há uma união e um espírito
de cooperação e colaboração entre seus integrantes tão forte que a sociedade
preferiu nomear-lhes desta maneira para identificar este companheirismo entre eles,
enquanto que as igrejas locais, no mais das vezes, são conhecidas exatamente
pelo oposto, pela divisão e desunião reinantes entre seus integrantes.
Os nossos dias são difíceis, dias muito corridos, onde a luta pela
sobrevivência muitas vezes prejudica até mesmo o contacto com os nossos
familiares, mas, como cristãos, não podemos nos deixar levar pelo curso deste
mundo. Temos de nos dedicar à nossa família e desenvolver relacionamentos
construtivos com os nossos irmãos, com os integrantes de nossa igreja local.
Precisamos nos pôr à disposição do Senhor para sermos companheiros uns dos
outros, para que tenhamos condição de, juntos, termos êxito na nossa caminhada
para o céu. Se o Senhor formou a igreja, que é a “reunião dos chamados para
fora”, não o fez sem propósito. Se somos reunidos na igreja é porque
necessitamos uns dos outros na nossa caminhada para o céu.
OBS: “… Estima-se que haja hoje, apenas no Brasil, entre 30 e 40 milhões
de pessoas que um dia frequentaram alguma igreja evangélica. Uma igreja de dez
anos que manteve média de duzentos membros viu passar por seu rol o dobro desse
número, isto é, quatrocentas pessoas que passaram por essa igreja estão
afastadas hoje. No Brasil, a porcentagem de afastados que retorna à igreja não
passa de 10%. Entre 60 e 70% dos afastados não receberam quaisquer visitas de
líderes ou membros quando decidiram sair da igreja. Entre 40 e 30% receberam de
uma a três visitas, que se revelaram, na maioria das vezes, de cobrança ou
condenação. Hospícios e presídios são os lugares de destino de boa parte dos
afastados. De cada dez andarilhos, três frequentaram uma igreja evangélica um
dia.…” (Agrício do VALE.
op. cit., p.55). Este quadro aterrador é resultado direto da falta
de fraternidade em nossas igrejas locais.
Em Tessalônica, se os dias não eram tão corridos como os de hoje, também
não havia as facilidades tecnológicas que temos hoje e, por causa disto, o
tempo daqueles crentes era também tomado com tarefas que hoje nos são
corriqueiras e rápidas. A perseguição, ademais, criou imensas dificuldades, mas
isto não impediu que aqueles homens e mulheres se ajudassem e ajudassem aos
crentes de outras cidades da Macedônia. Assim eram os crentes dos primeiros
dias apostólicos, assim eram os crentes abençoados por Deus conforme está
registrado nas Escrituras, ou seja, assim devemos ser nós.
Em terceiro lugar, fraternidade é “o amor ao próximo, a fraternização”,
dimensão horizontal do amor divino recebido pelo crente da qual já falamos
supra. Basta apenas lembrarmos que, ao lado do amor a Deus, Jesus considerou
que nisto se resumia toda a doutrina cristã e Seu mandamento aos discípulos,
nas Suas últimas instruções, é que amássemos uns aos outros assim como Ele
havia nos amado. Não se tratava de um conselho, mas de um mandamento, de uma
ordem. Quando não amamos o próximo, desobedecemos a Jesus e selamos nosso
destino eterno para fora da cidade santa.
Em quarto lugar, fraternidade é “a harmonia e união entre aqueles que
vivem em proximidade ou que lutam pela mesma causa”. A fraternidade revela-se
como harmonia, ou seja, como uma situação de equilíbrio de forças, como um
ambiente de paz entre pessoas que são próximas, que lutam pela mesma causa. A
Igreja é um povo que luta pela mesma causa: a salvação das almas. O papel da
Igreja é prosseguir o ministério de Jesus Cristo, ou seja, pregar o evangelho
para salvar o que se havia perdido. A Igreja tem uma luta a favor do homem e
contra as hostes espirituais da maldade, contra as portas do inferno. Por causa
disto, os crentes demonstram fraternidade, “caridade fraternal”, porque estão
do mesmo lado nesta luta contra o mal, porque compartilham os mesmos objetivos,
propósitos e esperanças.
A proximidade e a mesma perspectiva fazem com que os crentes se amem uns
aos outros. Se não somos próximos, se não estamos uns perto dos outros, não há
como se desenvolver um ambiente fraterno. Esta proximidade não é a proximidade
física, como, aliás, tem sido confundido no meio evangélico, onde, cada vez
mais, pregadores (que mais parecem “animadores de auditório”) apelam para as
manifestações afetivas físicas em meio a seus sermões, pedindo aos ouvintes que
dirijam palavras entre si, apertem as mãos, abracem-se e outras atitudes
quetais. Isto é apenas uma demonstração de quão distantes estamos do modelo
bíblico da afetividade. Muitos ficam emocionados só de receberem um abraço de
quem está a seu lado que, aliás, só o fez porque o pregador o pediu.
- A proximidade não se obtém desta maneira, mas, bem ao contrário,
tornamo-nos uns mais próximos dos outros na medida em que todos nos aproximamos
mais de Deus. ‘Chegai-vos a Deus que Ele Se chegará a vós “(Tg. 4:8a), dizia o
apóstolo Tiago, que era o pastor da igreja em Jerusalém. “Mas, para mim, bom é
aproximar-me de Deus” (Sl. 73:28a), dizia o salmista Asafe. Quanto mais
próximos estivermos de Deus, mais próximos estaremos também dos Seus filhos.
Entretanto, embora seja necessária a aproximação a Deus, isto não basta.
Em Jerusalém, a Bíblia nos afirma que os que creram em Cristo no dia de Pentecoste
se agregaram, ou seja, se reuniram em um grupo social e ali, naquele grupo,
perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e
nas orações. Esta busca a Deus deve ser feita de forma comunitária, além do
modo individual, o que fará nascer o afeto, a harmonia e a luta pela mesma
causa. Quando passamos a participar ativamente de uma igreja local, conforme a
vocação que temos o Senhor, certamente, nos fará Seu instrumento para ajudarmos
os demais irmãos e sermos ajudados por eles. Não podemos nos isolar, pois quem
assim o faz se acha superior aos demais. Não podemos, também, querer brilhar e
galgar posições de destaque. Devemos apenas ocupar a posição que nos foi dada
pelo Senhor e ajudar os irmãos a todo instante. Os escoteiros têm o compromisso
de fazer pelo menos uma boa ação no dia e se esforçam para cumprir este seu
dever. E nós, como filhos de Deus, temos tido esta mesma disposição?
- Estamos envolvidos em nossos projetos pessoais e de nossa família.
Tudo fazemos para termos uma melhor situação econômico-financeira, para
angariarmos uma posição social melhor, para darmos melhores condições a nossos
filhos. Tudo isto é muito bom e necessário, mas não devemos esquecer-nos de
buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça e de, nesta busca do reino
de Deus, lembrar que somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo e que
devemos, assim, ser instrumentos do Senhor para a salvação das almas e para o
aperfeiçoamento dos santos. A fraternidade é absolutamente necessária para que
cumpramos este propósito divino para nossas vidas e nada pode nos impedir de
cumprir este desiderato.
Quando vemos o apóstolo dizendo que nada o poderia separar do amor de
Deus que está em Cristo Jesus (Rm. 8. 35-39), devemos observar que, se nada
daquilo o separava do amor de Deus, nada daquilo poderia também impedi-lo de
fazer bem ao próximo, pois, como já foi dito, quem tem o amor de Deus e dele
não se separa, ama o próximo e amor não é por palavras, mas por obras. Desta
maneira, nada nos pode impedir de fazer bem ao próximo, de agir fraternalmente.
Mas, será que é isto que temos dito aos nossos irmãos? Não temos nos
justificado pela falta de tempo, pelas tribulações, pelas angústias etc. para
deixarmos de fazer algo para o próximo?
Os crentes de Tessalônica, apesar das perseguições e tribulações, não só
conseguiam se ajudar uns aos outros, como ainda estender a sua ajuda para as
outras comunidades cristãs da Macedônia. O apóstolo, preocupado em dar-lhes
auxílio, estava feliz ao saber que os que ele pensava precisarem ser ajudados,
estavam ajudando. Que maravilha, que exemplo de igreja local!
- Mas quando dizemos que a fraternidade é harmonia, também verificamos
que um dos fatores pelos quais se desenvolve um ambiente de intrigas, de
dissensões e de divisões na igreja local é pelo fato de não haver “caridade
fraternal”. A primeira dissensão de que se tem conhecimento na igreja cristã
deveu-se da falta de fraternidade para com as viúvas da igreja que eram judias
da diáspora (as “viúvas gregas”), como se observa de At.6:1. Aliás, “… a
maioria dos desviados (acima de 50%) é afetada pelo ressentimento com sua
liderança.…” (Agrício do
VALE. op.cit., p.55).
- Em Pv. 10. 12, é dito que o amor cobre todas as transgressões, em
contraponto ao ódio que excita contendas. O amor de que fala o proverbista aqui
é o mesmo amor de que trata o apóstolo Paulo, é o “amor fraternal” (“philia” na
Septuaginta). Somente a fraternidade tem condição de gerar harmonia, gerar paz
entre os irmãos. Não havendo este amor, inevitavelmente surgirão as contendas,
os atritos, mesmo no seio da igreja local. Não é por outro motivo que a
fraternidade é vivamente recomendada aos irmãos por Pedro, com citação do
proverbista (I Pe.4:8).
IV - O NECESSÁRIO RESGATE DA AÇÃO SOCIAL
Diante do que vimos até aqui, temos já esclarecido porque a ação social
nas nossas igrejas locais deixa muito, mas muito mesmo a desejar. Vivemos um
nítido processo de transformação de nossas igrejas locais em meras “multidões”,
aglomerações de consumidores, cada vez mais interessados em si mesmos, em ter
um “lenitivo espiritual” para o seu vazio espiritual, o que, não raro, leva
estas pessoas a procurarem “doutores conforme as suas próprias concupiscências”
(II Tm.4:3,4).
- Se a igreja local se desmonta como grupo social, tem se tornado um
pouco mais distante o ideal de ser um grupo social relevante, cuja ação no meio
da sociedade leve as pessoas, salvas ou não, a terem uma vida melhor, melhor
condições de vida, a ter respeitada a sua dignidade como pessoa humana.
- Verdade é que sabemos que as Escrituras anunciam que, ao findar desta
dispensação, sobrevirá um tempo particularmente difícil para a humanidade, onde
a ditadura do Anticristo imporá uma desigualdade social cada vez mais intensa,
desigualdade esta que já se evidencia como estão a mostrar, ano após ano, as
estatísticas das Nações Unidas e outras organizações internacionais.
- No entanto, nós, enquanto servos do Senhor, não podemos esmorecer, até
porque, quem pôs a sua mão ao arado e é apto para o Reino de Deus, pode voltar
atrás (Lc. 9.62). A situação é cada vez mais difícil, dentro das próprias
igrejas locais vemos perder-se a própria qualidade de grupo social na
membresia, mas isto não pode servir de motivo ou razão para esmorecermos.
- Devemos continuar a ajudar os necessitados, a começar pelos domésticos
da fé (Gl.6:10), em especial, nós, brasileiros, que vivemos no 10º país mais
desigual do mundo, conforme estatística das Nações Unidas no final de 2006. É
momento de não só termos uma assistência social eficaz (que deve ir muito além
do “quilo” nas ceias do Senhor), como também nos engajarmos em movimentos pela
melhoria das condições de vida de nossa população, seja através da alimentação,
seja através dos cuidados com crianças e adolescentes, seja através de
iniciativas que minorem o desemprego crônico de nosso país (o IBGE apontou taxa
de desocupação de 68% entre jovens de 18 a 24 anos, no final de 2006, residindo
aí a mão-de-obra barata e abundante do crime organizado), seja através do
atendimento dos idosos, cada vez mais numerosos e mais necessitados na
atualidade.
- A Igreja deve ter a iniciativa de conscientizar os segmentos sociais a
privilegiar o trabalho como fonte de subsistência do homem, como determinado
pelo Senhor, e não a especulação financeira, a criminalidade e a exploração da
população economicamente ativa para criação de mecanismos de dependência eterna
aos menos favorecidos por meio de esmolas estatais, que não são mecanismos que
podem ser tornados permanentes, sob pena de estagnação do país. A Igreja deve
lutar pelo pão que é necessário a todo homem, mas também para que ele seja
obtido com dignidade e mediante os meios estabelecidos pelo Senhor em Sua
Palavra.
- Para tanto, porém, como dissemos supra, é mister que a Igreja dê o
exemplo, que tenha, a partir de sua membresia, ações efetivas que mostrem ao
mundo que somos diferentes e que cremos num Deus poderoso, justo e
misericordioso. Enquanto nós mesmos nos mantivermos alheios ao sofrimento do
irmão, egoístas e sem compaixão, seremos totalmente impotentes com relação ao
lamentável estado de coisas que vive a nossa sociedade e, pior do que isto,
cúmplices e envolvidos em toda a sorte de desatinos, desvios e corrupções,
como, lamentavelmente, têm ocorrido em escândalos cada vez mais frequentes no
nosso meio.
- A ação social da Igreja deve ser vista como um “importante negócio”
(At.6:3), pois é assim que as Escrituras nos dizem ser tal atividade da Igreja.
Trata-se de uma tarefa tão importante que os apóstolos criaram até uma função
específica para dela cuidar, qual seja, a de “diácono” (At.6:3,5,6), palavra
que, em grego, significa “servidor”, vez que deveriam eles servir às mesas, ou
seja, cuidar da assistência aos necessitados.
- Vemos, pois, como o diaconato tem se desviado de seus propósitos
bíblicos. Hoje em dia, o diaconato nada mais é que um “passo inicial” do
ministério, nada mais é que uma atividade ritual de portaria, de recolhimento e
contabilidade de contribuições e de serviço do pão e do vinho na ceia do
Senhor, atividades que podem, sim, ser exercidas pelos diáconos, mas que não se
constitui, em absoluto, no papel do diaconato. Urge voltarmos ao modelo
bíblico, com diáconos que administrem a ação social da Igreja, que cuidem da
parte material e espiritual desta assistência, que é um “importante negócio”,
que deve ser dirigidos pelo Espírito Santo através de homens de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria. A total ausência do diaconato, quase
sempre numeroso nas igrejas locais, neste assunto é uma demonstração clara e
inequívoca de quanto temos negligenciado a missão social da Igreja.
- É verdade que a ação social das Assembleias de Deus é pífia, diante do
tamanho dela em nosso país. Nem falemos dos católicos romanos, que aqui
chegaram juntamente com os portugueses no século XVI e que, “pelo tempo e
privilégios que têm no Brasil, tinham mesmo que ter, pelo menos, uma boa infraestrutura
de assistência social” ou, quem sabe, dos espíritas, que, “afinal de contas,
existem há, praticamente, 100 anos em nosso país e são, particularmente,
majoritários nas classes abastadas de nossa nação”. Não, para que não tenhamos
estas justificativas, olhemos para as denominações neopentecostais, que não
têm, ainda, 25 anos de vida, mas cujas obras sociais são muito maiores do que
as nossas. Dirão alguns, “mas, também, com o mercenarismo que as caracteriza,
têm capital suficiente para isto”. Mas, em resposta, diremos que, embora
concordemos que elas sejam mercenárias, muitas vezes, não é interessante que,
com toda esta suposta ganância, tenham conseguido investir muito mais do que
nós em obras assistenciais? Se eles, tão gananciosos, investiram muito mais
dinheiro do que nós na ação social, do que devemos ser chamados? Jesus exaltou
a oferta da viúva, porque os ricos davam o que sobrava enquanto que ela deu o
que tinha, mas podemos dizer que estamos dando o que temos? Ou será que
queremos ter o agrado do Senhor, que é o mesmo, sem dar coisa alguma?
OBS: O mais triste é que, recentemente, no “escândalo das máfias das
sanguessugas”, ficamos a saber que muitos têm se utilizado desta carência de
assistência social em nosso meio para se enriquecer ilicitamente, conseguindo
transformar uma omissão em meio de escândalo.
- Logicamente que a ação social da Igreja não se limita apenas ao
“serviço social”, nem pode se circunscrever ao aspecto material. Por isso, não
é desculpa a falta de recursos materiais para não se praticar atos de ação
social. Quem não pode vestir, dar de comer ou dar abrigo a alguém, pode
consolar, instruir, confortar, visitar. “…A bondade não consiste em dar
presentes, mas na doçura e na generosidade do espírito. Pode-se dar dinheiro da
algibeira sem nada que venha do coração. A bondade que se contenta com dar
dinheiro não vale grande cousa e muitas vezes faz tanto mal como bem, mas a
bondade que se traduz por uma verdadeira simpatia e um auxílio oportuno nunca
deixa de dar bons resultados(…). A verdadeira bondade procura e favorece tudo o
que pode servir para fazer o bem no presente e, olhando para o futuro, trabalha
com o mesmo espírito para a elevação e a felicidade da humanidade.…” (Samuel
SMILES. Trad. de D. Amélia Pereira. O caráter, p.290-1).
- O salvo pratica boas ações, tem “bondade”(Gl.5:22), que é “a boa
qualidade”(na origem da palavra “bonitas”, em latim), é aquele que será
convidado pelo Senhor a ingressar nas mansões celestiais porque, como prova de
que era ramo da videira verdadeira, deu de comer ao faminto, hospedou o
desabrigado, vestiu o desnudo, visitou o enfermo e o preso (Mt.25:34-40). Que
Deus nos guarde de uma falsa conversão que, no dia do juízo final, será provada
pela ausência de atos de bondade em nossas vidas (Mt.25:41-46). Pelo que temos
praticado, qual será o nosso destino diante do Reto e Supremo Juiz? Somos dos
“figos bons” ou dos “figos maus” (Jr.24) ? Que Deus nos desperte e que tenhamos
benignidade e bondade em nossas ações, que é a ação social da Igreja, a sua
missão social.
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