PECADORA QUE UNGIU OS PÉS DE JESUS

A passagem é descrita unicamente no
Evangelho de Lucas, capitulo 7, versos 36 a 50. Uma mulher sem nome, que entrou
para história por ter ungido os pés do Mestre Jesus, enquanto lágrimas desciam
de seu rosto, misturando-se ao óleo, ao que ela carinhosamente enxugava com
seus cabelos. A tradição diz que essa mulher era Maria Madalena, mas não há
comprovação de que realmente seja. Muitos, ainda, dizem que a mulher seria a
mesma de Marcos 14:3-9, Mt 28 e João 12-1-8. E por muito tempo, também pensei
dessa forma, até estudar cuidadosamente e sem sombra de dúvida, constatar que
Maria, irmã de Lázaro que ungiu a cabeça e o corpo de Jesus, em um jantar em
Betânia, profetizando sua morte, nada tem a ver com a prostituta arrependida de
Lucas 7. A semelhança está no ato de Maria, também ter ungido os pés de Jesus e
enxugado com seus cabelos. Quando fez isso, estava em casa de Simão, o leproso,
pai de Judas Iscariotes. A mulher, chamada de prostituta, estava em casa de um
fariseu, coincidentemente, também chamado de Simão. Se dissermos que as
passagens falam da mesma mulher, então estaremos afirmando que Maria, irmã de
Lázaro (o ressuscitado) era prostituta, o que não procede.
Mas deixemos a identidade da mulher
em oculto, seu nome e sua parentela talvez nem dissesse quem de fato ela era. O
encontro que teve com Jesus, esse sim definiu toda sua vida e marcou uma nova
identidade. Nem diria “nova identidade”, mas a que se havia perdido, pelas
escolhas que fizera, pelos caminhos que andava, enfim pela vida que levava. Ao
arrepender-se, ela torna-se aquilo que Deus idealizou para ela. Uma mulher
livre, capaz de andar em qualquer lugar de cabeça erguida, de testemunhar sobre
ser “nova criatura em Cristo Jesus” II Cor 5. 17. Essa mulher disse muito, sem
dizer uma palavra! Seus gestos foram capazes de despertar a atenção de Jesus e
de fazer com que Ele a recebesse em Seu Reino, dizendo as mesmas palavras que
disse a mulher que fora curada do fluxo de sangue: “A tua fé te
salvou, vai em paz”. E esse "salvou" no grego é “sozo” (stong
4982): sarar, preservar, manter seguro, resgatar do perigo. Uma palavrinha tão
pequena, com tão grandes significados! Em algumas culturas “sozo” simplesmente
se traduz como: “dar uma nova vida”, “trocar o coração”, aleluia! Assim Jesus
disse: Vai mulher, está segura do perigo, livre da morte eterna, sarada,
preservada, com nova vida, novo coração! Onde mais encontraríamos tão grande
conforto e refrigério?
A pecadora que ungiu os pés de Jesus
adentrou na casa do fariseu Simão sem ser convidada e discreta e
silenciosamente se agachou junto aos pés de Jesus. Abriu seu pequeno frasco de
alabastro (feito de gesso ou semelhante) e derramou suavemente o óleo sobre a
pele de Jesus, espalhou com as mãos e recostou sua cabeça juntinho a Ele,
especialmente sua face molhada de lágrimas que caiam incessantemente. E quando
já não podia enxugar os pés do mestre, pois mãos e rosto estavam bem molhados,
ela usa os cabelos como se fosse um lenço. Que bela cena! Quanta gentileza e
amor de Jesus por não se sentir incomodado com a ação. Pelo contrário, Ele
compreende perfeitamente a grandeza de cada gesto, o significado de cada
lágrima, o deslizar do óleo que simbolizava exatamente o bálsamo curador da
alma daquela mulher, outrora tão desprezada e infeliz! Óleo ajuntado sob
lágrimas de arrependimento. Jesus estava no coração daquela mulher, que já não
era pecadora, pois estava ali, implorando perdão. Suspirando por misericórdia.
Ela viu em Jesus o amor que não havia visto em nenhum outro lugar. Cansada de
tantos relacionamentos e homens carnais, ela enfim encontrara descanso, um
lugar para deixar o pesaroso jugo e seguir em frente.
Fazendo um breve resgate dos costumes
da época em Israel, as mesas eram dispostas com três largos sofás ao seu redor.
Um dos lados da mesa ficava livre para que os servos pudessem trafegar com
tranquilidade ao servir as refeições. Essa arrumação era herança romana,
chamada triclinium. Sendo assim, os pés dos que estavam à
mesa, ficavam livres. A mulher, então, pôde sem impedimento
chegar aos pés de Jesus. Depois dessa descrição de costumes, fica fácil
compreender a passagem: “E estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou
a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e
beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.” Lc 7. 38.
Vejam, Simão convida Jesus para
jantar e não faz para Ele, às honras comuns dedicadas a um convidado.
Lucas
7: 44- Vês
tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta
com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os enxugou.
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Lucas
7: 45 Não
me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me
os pés.
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Lucas
7: 46 Não
me ungiste a cabeça com óleo; mas esta com bálsamo ungiu-me os pés.
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Lucas
7: 47 Por
isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito
amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
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O fato é que o fariseu ficou
incomodado com a presença da mulher, seu modo de tratar Jesus e a não reação
Dele. Ela não era digna, será que não percebia isso? Jesus leu os pensamentos
maldosos e preconceituosos de Simão, mas o fariseu foi incapaz de saber o que
se passava no íntimo da pecadora arrependida. Ninguém compreende tão bem um
coração carente e amoroso quanto Jesus. Ninguém sabe julgar perfeitamente e
além da aparência, somente Ele! Podemos nos enganar sobre o que seja bom e
justo. O fariseu se achava superior à mulher que ungia os pés de Jesus. Ele
tinha uma vida social estável, pertencia à elite religiosa local, tinha
influência. Aos seus próprios olhos, justo. Mas existia uma diferença essencial
entre o fariseu e a pecadora arrependida. Jesus estava sentado à mesa da casa
de Simão, quanto à pecadora; Jesus estava em seu coração. Eis a diferença de um
cristão para um fariseu: o lugar que cada um reserva para Jesus em suas vidas.
O homem, não é justo por si mesmo, mas em Cristo se torna justo: “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da
lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para
sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto
pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.” Gálatas 2: 16.
A mulher amava a
Jesus acima de tudo, não teve medo do que iria enfrentar por sua fé. Diz I João
4: 18 “O verdadeiro amor lança fora todo o medo”, acho mesmo que esse versículo
pode ser usado com fins impróprios, mas não é esse o caso. Verdadeiramente ele
se aplica a situação da pecadora que ungiu os pés de Jesus, ela não teve medo
de entrar na casa de Simão sem ser convidada e prestar honras a um homem que
tinha certeza ser o Messias Salvador. Ela foi corajosa, mais que isso, ela
muito amou. E assim Jesus a descreve para os presentes: “uma mulher que amou
por demais porque teve uma grande dívida perdoada” Lucas 7: 47. Simão amou
pouco a Jesus, e amou demais o mundo. Ele teve receio de tratar Jesus bem
demais e ser criticado por seus colegas de religião, ele teve medo de
demonstrar amor. E se isso aconteceu, é porque o medo venceu, o amor perdeu.
Simão é o típico exemplo de pessoas que confessam ser cristãs por conveniência.
Convidam Jesus para suas mesas, mas não O deixam entrar em seus corações e nos
demais recintos da casa.
A mulher que ungiu os pés de Jesus
estava visivelmente grata por tudo e prestou - Lhe uma adoração sincera. Os
gestos dela, repletos de amor e simplicidade, impressionaram a Jesus
muito mais que o jantar de luxo oferecido por Simão. Com um frasco de
unguento, ela unge os pés de Jesus. Por que os pés? Já me perguntei tantas
vezes, já que a unção sacerdotal era sobre a cabeça. Quem sabe, para
retribuir o conforto de andar em um novo Caminho, de não mais pisar os pés em
lugares inseguros e escuros. Quem sabe, para proporcionar descanso a Jesus,
pelas muitas caminhadas feitas salvando vidas, nas quais ela se incluía. Um
descanso que ela experimentava agora. Não nos é dado o valor do unguento, mas
certamente foi ajuntado com zelo e guardado com muito cuidado para a ocasião.
Que nós também, possamos ter zelo com nosso culto, nosso relacionamento com
Deus. Que tenhamos momentos de derramar lágrimas e agradecer com todo o coração
por tudo que Jesus é. Que agradar aos homens não seja mais importante em
nossas vidas, do que agradar a Deus.
Em Cristo, Aquele que veio para nos salvar.
FONTE:http://www.atendanarocha.com
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