AH! COMO É BOM SER IDOSO! ...
UMA CULTURA FASCINADA PELA JUVENTUDE
Dr. Stephen J. Nichols é professor parceiro do
Ministério Ligonier e professor de teologia e história da igreja na Lancaster
Bible College em Lancaster, Pennsylvania. Ele é autor do livro Heaven on Earth: Capturing Jonathan Edwards's
Vision of Living in Between.
Talvez isso tenha
começado antes dos anos 50 e 60, mas essas duas décadas parecem ter marcado o
aumento do fascínio pela juventude na cultura americana. A famosa frase que
celebra o espírito jovem, quase sempre atribuída de forma equivocada a James
Dean, declara: "Viva rápido, morra jovem e deixe para
trás um cadáver bonito".
A música popular, o
barômetro da cultura popular, acompanhou essa tendência. Quase todas as bandas
de heavy metal dos anos 80 e 90 tinham aquela conhecida
melodia sobre jovens heróis caindo em um "esplendor de glória" 1. Outras
referências da música pop enfatizam o poder invencível da juventude. Rod
Stewart canta sobre ser "para sempre jovem" ("Forever
Young"). Em seu hit de sucesso "We Are Young" ("Somos
Jovens"), o grupo contemporâneo Fun declara que essa
juventude vai "incendiar o mundo". O narrador sentado no banco de um
bar em "Glory Days" ("Dias de Glória"), de Bruce
Springsteen, afoga as mágoas da sua meia-idade ao recontar suas façanhas e
triunfos vividas no ensino médio. Nenhum de nós quer reviver os momentos
difíceis do colégio, mas quem dentre nós não acolhe desejos secretos de ser
jovem de novo e aparentemente capaz de conquistar o mundo?
As inclinações sutis,
e as não tão sutis, à idolatria da juventude manifestam-se em três áreas. A
primeira é uma exaltação dos jovens sobre os idosos. Isso inverte o paradigma
bíblico. A segunda é uma visão do ser humano que valoriza a beleza externa (não
deve ser confundida com a verdadeira beleza e estética), a força e a realização
humana. Pense na líder da equipe de torcida e no famoso jogador de futebol. O
terceiro é o domínio do mercado pelo grupo demográfico jovem. Isto é, a fim de
ser relevante e bem sucedido, deve-se apelar para a juventude ou para o gosto
dos jovens. Essas manifestações de nossa cultura fascinada pela juventude
merecem um olhar mais de perto.
A tendência de
exaltar a juventude e deixar de lado os mais velhos decorre de um problema mais
profundo que pode ser resumido na expressão "O mais novo é melhor".
Nós celebramos o novo e o inovador ao passo que menosprezamos o passado e a
tradição. Há uma vitalidade atraente na juventude e nas ideias novas, mas isso
não significa que não há sabedoria a ser encontrada no passado. É um sinal de
arrogância pensar que se pode encarar a vida sem a sabedoria daqueles que
vieram antes de nós. Há algo na juventude que faz com que os jovens pensem que
são imunes aos erros e equívocos daqueles que lhes antecederam. Todos nós
superestimamos a nós mesmos e as nossas capacidades. Simplificando, precisamos
da sabedoria advinda do passado e dos mais velhos.
A idolatria da
juventude infiltra-se até mesmo na igreja. Uma das maneiras de vermos isso é
através da ênfase que é dada aos grupos de jovens da igreja. Curiosamente,
Jonathan Edwards, em sua carta a Deborah Hathaway, conhecida como "Carta a
uma jovem convertida", a encorajou a se juntar a outros jovens na igreja
para orarem juntos e discutirem sobre seus progressos na santificação, como uma
forma de encorajar um ao outro. Resumindo, ele a estava chamando para começar
um grupo de jovens. Os grupos de jovens podem servir um propósito significativo
e podem ser um ministério importante. No entanto, ao fazer isso, eles podem
estar separando os jovens das outras faixas etárias da igreja. A igreja precisa
adorar, aprender e orar junta, velhos e jovens lado a lado. A
cultura tenta empurrar o velho para fora. A igreja não pode fazer isso.
Visto que precisamos
da sabedoria dos idosos no corpo de Cristo, precisamos também da sabedoria do
passado. O mais novo nem sempre é melhor. Às vezes é pior; às vezes é errado.
Como igreja, somos um povo com um passado. O Espírito Santo não foi dado
exclusivamente à igreja do século XXI. Ignoramos ou desprezamos o passado para
o nosso próprio prejuízo.
O caminho para sair
da escravidão desta celebração indevida da juventude é promover uma comunidade
verdadeiramente diversificada em nossas casas e em nossas igrejas. As lacunas
entre as gerações podem ser desagradáveis e se tornar barreiras para que ambos os
lados tenham uma comunhão genuína e autêntica. No entanto, Deus projetou a Sua
Igreja de tal forma que precisamos uns dos outros. Paulo ordena especificamente
a Timóteo que faça com que os mais velhos ensinem os mais jovens (Tito 2:1-4).
Saímos perdendo quando pensamos que não temos nada para aprender com outras
pessoas que estão em diferentes fases da vida. A igreja atual também perde
quando pensa que não tem nada a aprender com a igreja de ontem.
Os mais velhos podem
sentir-se intimidados na tentativa de alcançar os mais jovens, porém os mais
velhos devem tomar a iniciativa. Os jovens podem tirar os seus fones de ouvido
e olhar além dos seus iPods. Filhos e netos precisam ouvir as histórias de seus
pais e avós.
A segunda
manifestação da nossa cultura fascinada pela juventude é uma visão distorcida
da humanidade. A nossa cultura determina o valor de um ser humano com base na
aparência dele ou dela. Pais, professores, pastores de jovens e pastores sabem
como a imagem corporal pode ser absolutamente devastadora para a juventude de
hoje. Sabemos também que, teologicamente, a dignidade humana e, portanto, o
valor humano origina-se em nossa criação à imagem de Deus. Nossa cultura
obcecada pela juventude usa uma medida imperfeita para determinar o valor
humano.
Por outro lado,
também perdemos de vista a fragilidade e a depravação humana. Nós não somos
fortes. Isaías nos lembra: "Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os
moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças".
(Isaías. 40:30-31a). O tema da força de Deus manifestada em nossas fraquezas
reverbera por meio dos escritos de Paulo. Todavia não vamos conseguir ouvi-lo,
se estivermos focados em imagens de força e invencibilidade da juventude.
Precisamos ajudar os
jovens a enxergarem que o valor deles advém do fato de serem feitos à imagem do
Criador e do Redentor. Na cultura de hoje, está cada vez mais difícil passar
pela adolescência de forma saudável. Nossos jovens estão rodeados por imagens
do belo e do magro, do jovem e do lindo. As imagens de perfeição os
bombardeiam. Meu amigo Walt Mueller, autor e presidente do Center for
Parent/Youth Understanding [Centro de estudos para Pais e Jovens], tem
pesquisado a indústria de publicidade por anos. Sua conclusão? Imagens evidentes
e sutis passam diante dos olhos de um adolescente comum pelo menos centenas de
vezes por semana. Adicione a isso a mensagem de imagem corporal que chega, em
grande parte, através da música pop e do cinema, e você verá o desafio. A
cultura jovem precisa da ajuda da igreja para pensar biblicamente sobre uma
visão saudável e que honre a Deus de si mesmo e dos outros.
A terceira
manifestação da cultura jovem tem a ver com a forma como esse grupo demográfico
impulsiona o mercado. O motor econômico que dirige grande parte da cultura
popular, em termos de filmes e música, pelo menos, é o grupo com recursos
desregrados - adolescentes e jovens aos vinte e poucos anos. Grupos de jovens e
até mesmo igrejas que buscam ser "bem sucedidos", estão correndo para
acompanhar o ritmo deles.
A escritora sempre
perspicaz, Flannery O'Connor, do sul dos Estados Unidos, avaliou, uma vez, em
um debate sobre o uso de um romance polêmico nas salas de aula das escolas
públicas. Ao invés de debater os méritos ou deméritos específicos do livro,
O'Connor levantou uma questão mais profunda. Ela observou que os defensores do
livro formaram seu argumento, alegando que o livro era atual e da moda, razões
pelas quais os jovens se interessavam por ele. "Por que não atender a
vontades deles?" foi o argumento. O'Connor por sua vez formou seu
argumento pela confiança no cânone literário, e não na ficção popular. Em
seguida, ela partiu para o ataque em suas frases finais: "E se o aluno
descobrir que aquele estilo não é do seu gosto? Bem, isso é lamentável. Muito
lamentável. Seu gosto não deve ser consultado, está sendo formado",
("A ficção é uma matéria com uma história ela deve assim ser
ensinada").
Alguns podem
rejeitar o argumento de O'Connor, considerando-o como um apelo elitista. No
entanto, ela mostra uma razão justa. Há o que achamos necessário e há o que
realmente é necessário. Às vezes algumas décadas são necessárias para ver a
diferença.
O sociólogo
Christian Smith criou a frase deísmo terapêutico moralista para
descrever a visão religiosa proeminente da juventude americana. Sua descrição é
plausível, mas como devemos responder? Simplesmente satisfazer a esses gostos é
ceder. Ao fazermos isso, perde-se o evangelho e as exigências da vida cristã.
Uma daquela baladas
de rock à qual me referi anteriormente ecoa repetidas vezes uma frase
assombrosa: "Dê-me algo para acreditar". Ela conta uma história de
busca, mas que encontra apenas decepção e desilusão. Contudo, persiste o desejo
de acreditar em alguma coisa. Os sociólogos dizem que a cultura da juventude
contemporânea valoriza a autenticidade. Nós alcançaremos melhor a cultura jovem
se não cedermos à pressão ou fingirmos estar na moda - de qualquer maneira, é
muito difícil fingir estar na moda. O respeito de uma pessoa pela outra cresce
bastante quando uma simplesmente fala e vive a verdade em amor.
A cultura jovem
atual enfrenta um grande problema de ansiedade. Em quase todos os níveis, um
futuro incerto nos espera no horizonte. Mas essas ansiedades são apenas os
sintomas de um problema real, sombras da ansiedade que a humanidade enfrenta
por causa da alienação. Nosso pecado nos separa de Deus. E nós precisamos de
alguém em quem acreditar. Nenhum de nós, jovem ou velho, precisa de uma
religião terapêutica. Todos nós precisamos do evangelho. E todos nós precisamos
de uma igreja de jovens e idosos - entre outras idades - que anuncie e viva o
evangelho.
Fonte: E-mail: Sandra Alice - SECRETÁRIA DO CRIM
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